Alunos de outras religiões aprendem a ser mais tolerantes por meio da segregação

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Tradução e Áudio: Karol Fialho

Arianna Davidson
Rabbi Sam Spector falando com a caloura da BYU, Janai Wright (Arianna Davidson)

Aproximadamente 99% dos alunos da BYU são membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O restante do 1% – cerca de 425 estudantes – são membros de outras religiões como o budismo, catolicismo, protestantismo, islamismo e judaísmo, de acordo com James Slaughter, assistente do diretor da capelania da vida estudantil e universitária.

Enquanto a maioria dos alunos entrevistados pelo The Daily Universe disse que tem gostado da suas respectivas experiências na BYU, muitos também disseram que a vida em Provo não tem sido fácil.

A caloura católica Victoria Raimondi disse que se lembra do dia em que um de seus professores disse que ela é um membro da “grande e abominável igreja”.

Um dos únicos 81 alunos católicos que frequentam a BYU, Raimondi disse que enfrentou os desafios de ser uma minoria religiosa em uma universidade predominantemente Santo dos Últimos Dias.

“A primeira experiência que tive quando alguém descobriu que eu não era membro, eles me perguntaram se eu sabia quem era Jesus”, disse Raimondi. “Minha resposta foi: ‘eu sou católica’ e eles apenas responderam: ‘Mas você sabe quem é Jesus?’”

Em uma comunidade tão concentrada com pessoas de só um sistema de fé, Raimondi disse que é difícil para aqueles de diferentes religiões se sentirem bem-vindos.

“A questão é exacerbada com a insistência constante dos colegas para ‘simplesmente converter’ como se fosse uma decisão simples, ao invés de uma mudança de vida”, disse Raimondi.

De acordo com Jack Bohm, um estudante agnóstico do programa de animação, alunos da BYU de outras religiões às vezes riem sobre a persistência dos missionários do campus ou sobre o constrangimento de serem chamados para orar em sala de aula. O agnosticismo é a visão de que a existência de Deus é desconhecida ou incognoscível.

“Estar aqui tem sido muito difícil, mas também tem sido bom porque me fez olhar para a minha própria fé de uma maneira diferente”, disse Bohm.

Bohm disse que estar na BYU o tem feito perceber que, para julgar com precisão religiões diferentes, ele deve julgar suas próprias crenças na mesma medida.

De acordo com Slaughter, os alunos que são membros da Igreja podem aprender muito com os alunos que são de outras religiões. Da mesma forma, estudantes de outras religiões também podem aprender com os membros da Igreja.

Slaughter disse que muitos alunos não membros da Igreja sentem que sua estadia na BYU os ajudaram a se aproximarem de suas próprias crenças, ao invés de sentirem-se mais próximos da  Igreja.

De acordo com os alunos entrevistados, isso acontece principalmente porque, em um esforço para não ser visto como um alvo para a conversão, os alunos que não são membros da Igreja aprendem mais sobre suas crenças para se defenderem caso seja necessário.

Cercados por alunos de crenças diferentes, os alunos não-membros da Igreja disseram que se sentem mais tolerantes com aqueles que não compartilham da mesma fé, de acordo com Evan Jones, um ex-aluno da BYU e ex-membro da Igreja.

Enquanto as gerações mais antigas de membros da Igreja têm menos aceitação de crenças alheias, a geração mais jovem tem feito um bom trabalho em aceitar e incluir as pessoas, disse Jones.

Arianna Davidson
Barrister Raffia Arshad fala com o calouro da BYU, Laith Habahbeh, entre outros, em um evento realizado pelo Interfaith Club dia 16 de outubro de 2018. (Arianna Davidson)

Com a maioria dos estudantes de outras religiões entrevistada, havia algo ressonante que todos eles têm em comum: sua estadia na BYU os tornaram mais tolerantes com os que os cercavam. Isso os ajudaram a perceber que todos têm diferentes pontos de vista sobre a vida e que está tudo bem.

Thomas Britt, co-presidente do Interfaith Club, disse que a tolerância de muitos estudantes da BYU por conta de outras religiões aumentou e se espalhou por todo o campus.

Uma das metas e objetivos da educação da BYU é fortalecer os alunos espiritualmente, de acordo com a missão e os objetivos da universidade. De acordo com os alunos entrevistados, muitos alunos e professores da BYU assumem que esse objetivo refere-se apenas aos alunos que são membros da Igreja. No entanto, professores como Slaughter e os alunos não-membros da Igreja entrevistados disseram que a BYU também os fortalece em suas crenças fora da Igreja.

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